quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

A Igreja Católica o Cânon (CACP)


Os católicos alegam que os protestantes devem confiar em sua tradição para saber que livros devem incluir no cânon Bíblico. O argumento diz que desde que não há um "índice inspirado" da Bíblia, então nós somos forçados a confiar na tradição católica para saber que livros pertencem realmente à Bíblia, e que livros não pertencem. 

Os católicos ainda alegam que foi a igreja de Roma, que determinou o cânon bíblico nos Concílios de Hipona (393 A.D.) e Cartago (397 A.D.), e somente por isso que hoje os protestantes sabem quais livros são inspirados, e quais não são. Conseqüentemente, é à Igreja Romana que deveríamos nos submeter em questões de fé e decisões doutrinárias.

Contudo, o argumento acima é espúrio por diversas razões as quais nós iremos comentar logo abaixo:

Cartago e Hipona 

Primeiramente, os Concílios de Cartago e Hipona não estabeleceram o cânon à Igreja como um todo. Até mesmo "A Nova Enciclopédia Católica" em inglês assegura o fato de que o Cânon não esteve oficialmente estabelecido à Igreja Ocidental até o Concílio de Trento no século XVI e que até mesmo uma autoridade tal como Gregório - o Grande, que posteriormente veio a ser papa havia rejeitado os Apócrifos como canônicos.

Jerônimo, chamado de doutor da igreja, fez uma clara distinção entre os livros que considerava canônicos e eclesiásticos. Quanto ao ultimo grupo ele declarou que poderia circular pela Igreja como literatura útil, mas não foi reconhecida como Escritura Sagrada e autorizada para fins doutrinários. 
A situação permaneceu obscura nos séculos seguintes. Por Exemplo, João Damasceno, Gregório o Grande, Walafrid, Nicolas de Lyra continuaram a duvidar da canonicidade dos livros deuterocanônicos. Segundo a doutrina católica, o critério usado para definir o cânon bíblico é a decisão infalível da Igreja. No entanto esta tal decisão nunca foi tomada antes do Concílio de Trento. Que isto não tinha sido feito antes de Trento é provado pela incerteza que persistia até o tempo deste Concílio.

Houve pais da igreja de grande influência antes dos Concílios Africanos do Norte que rejeitariam o julgamento destes dois Concílios tais como Orígenes, Melito de Sardes, Atanásio, Cirilo de Jerusalém, Gregório de Nazianzeno, Hilário de Poitiers, Epifânio, Basílio o Grande, Jerônimo, Rufino e muitos outros. Eles defendiam que os livros do Velho Testamento foram em número de 22 ou às vezes 24, dependendo de como os livros eram agrupados. Isto corresponde ao cânon Judaico que não aceitava os livros apócrifos como sendo canônicos. Jerônimo, que gastou muitos anos estudando na palestina e que teve mestres judaicos, rejeitou os apócrifos porque aqueles livros não foram reconhecidos como canônicos pelos Judeus. 

A objeção que os católicos levantam é que se a Septuaginta incluía esses livros é prova de que os judeus alexandrinos tiveram um cânon mais extenso que seus irmãos palestinenses. Todavia isso não passa de mera especulação. Eles fazem esta afirmação porque os livros apócrifos são incluídos em alguns dos antigos manuscritos que nós temos da Septuaginta. Mas se isto prova alguma coisa, prova no máximo que a Septuaginta incluía os livros apócrifos junto com os livros canônicos do velho Testamento para propósitos de leitura, e não que eles fossem recebidos como canônicos. O manuscrito mais antigo que nós possuímos da Septuaginta remonta ao 4º ou 5º século d.C. Sendo assim eles não refletem necessariamente a crença dos Judeus de Alexandria sobre os apócrifos. Também, esses manuscritos da Septuaginta contêm livros tal como III Macabeus que nunca foi aceito como canônico por Roma. Acrescenta-se a isso, como importante fato, que Orígenes e Atanásio mesmo sendo de Alexandria, ambos rejeitaram os livros apócrifos como sendo canônicos. O único livro apócrifo que Atanásio incluiu na sua lista foi Baruque, mas isto devido ao fato de ele ter pensado que este livro fazia parte do livro de Jeremias. 

Hipona e Cartago foram concílios locais que não tiveram autoridade ecumênica. Em adição, podemos dizer que mesmo aqueles dois Concílios contradizem o Concílio de Trento em um ponto importante. Primeiramente, Hipona e Cartago declara que 1 Esdras e 2 Esdras são canônicos. Eles estão referindo aqui à versão Septuaginta de 1 e 2 Esdras. Nesta versão 1 Esdras é uma adição apócrifa a Esdras enquanto 2 Esdras é a versão Judaica de Esdras-Neemias do cânon Judaico. O Concílio de Trento, entretanto declara que 1 Esdras é realmente o Esdras do cânon Judaico e 2 Esdras é Neemias do cânon Judaico. Trento omite a versão da Septuaginta de 1 Esdras. 

Outro ponto que prova ser as alegações católicas infundadas é o fato de que a prática universal da Igreja como um todo até o tempo da Reforma foi seguir o julgamento de Jerônimo que havia rejeitado os apócrifos. Aqueles livros tiveram a permissão de serem lidos na Igreja para fins de edificação, mas nunca foram considerados autorizados para estabelecer doutrinas.

Parece que a igreja dava dois significados para o termo "canônico" em relação aos livros da Bíblia: um mais lato no sentido de incluir todos os livros que foram permitidos serem lidos nas igrejas e outro mais restrito que incluía unicamente aqueles livros que foram considerados como autoridade para estabelecer doutrina. 

O caso da Glossa Ordinária - Esta Glosa foi um comentário bíblico autorizado para a Igreja Ocidental como um todo. Seu prefácio declara que a Igreja permite a leitura dos livros apócrifos somente para a devoção e instruções e costumes, mas que eles não possuem nenhuma autoridade para decidir controvérsias em matérias de Fé. Ele ainda declara que há 22 livros do AT e apela para os testemunhos de Orígenes, Jerônimo e Rufino. 

Conclusão 

As reivindicações que a igreja romana faz sobre o cânon são historicamente insustentáveis. Ela sugere que nós deveríamos receber seus ensinos como autoridade suprema por causa desta questão do cânon, pressupondo que foi ela quem nos deu a lista correta dos livros canônicos. Mas isto equivale aos fariseus exigirem que Jesus recebesse seus ensinos como autoridade suprema simplesmente porque como Judeus eles tinham determinado que livros faziam parte do cânon. Mesmo que as reclamações da Igreja Romana estivessem corretas com respeito ao cânon, isto não prova de maneira alguma que ela está automaticamente correta em todas as áreas pertinentes à sã doutrina, e que nós deveríamos obedecê-la e receber como autenticas suas doutrinas extrabíblicas, não mais do que Jesus deveria receber as doutrinas ou seguir os fariseus hipócritas. As principais doutrinas romanas contradizem as sagradas escrituras tais como a Tradição Oral, o Papado, Maria, os sacramentos, o purgatório, além do que o seu cânon é diferente do cânon da igreja primitiva.



Professor Paulo Cristiano é presbitero da Igreja Evangélica Assembléia de Deus, professor de religiões, vice-presidente do CACP e escritor.
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